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Conselho Episcopal Pastoral da CNBB |
Os membros do Conselho Episcopal Pastoral da CNBB, reunidos em
Brasília, nesta quarta-feira, 15 de fevereiro, realizam reflexão sobre o
pentecostalismo e neopentecostalismo no Brasil. Os bispos seguem estudo
iniciado na tarde da terça-feira, 14 de fevereiro. Dom Francisco
Biasin, presidente da Comissão do Ecumenismo e Diálogo Inter-religioso,
apresentou texto propositivo a respeito do tema, preparado pela Comissão
que ele preside, e destacou algumas questões pastorais que precisariam
ser consideradas pela Igreja em todo o Brasil.
É preciso “agilizar nossa solicitude social”, propõe o texto
apresentado. “Frequentemente, a razão pela qual alguém deixa a Igreja
Católica tem cunho materialista; uma promessa de ajuda material que
praticamente compra, adquire a pessoa; deixando-a depois como que traída
e desiludida”. Há um reconhecimento, no texto, de que os grupos
pentecostais se infiltram nas comunidades justamente nas ocasiões de
sofrimento, de um acidente, de uma carência extraordinária e assim por
diante. “Daí, que a questão é: Por que eles se dão conta da situação, se
fazem presentes… e nós não?”. Dom Biasin lembrou ocasião em que, ao
falar aos bispos de Ghana, África, durante a sua visita ad limina a Roma
em 1993, São João Paulo II observou que “por vezes o atrativo destes
movimentos se baseia sobre seu aparente sucesso em responder às
necessidades espirituais das pessoas – a carência de seus corações por
algo de mais profundo, pela cura, pela consolação e proximidade com o
transcendente”.
Um segundo ponto destacado no texto pede para “Fomentar pequenas
comunidades e formar liderança leiga”. E registra a seguinte
constatação: “temos paróquias tão grandes, em geral, que nossos fiéis
não se sentem em casa, mas sim deixados de lado e abandonados; enquanto
que se sentem em casa – aceitos, estimados e acolhidos – nas pequenas
comunidades dos grupos pentecostais”. O texto propõe como uma possível
resposta por parte da Igreja Católica incrementar o clima de família nas
paróquias através de pequenas comunidades, grupos de oração, grupos
juvenis e outros, investindo decididamente na formação de leigos que
possam guiar tais grupos.
No texto apresentado por dom Biasin, um terceiro ponto de reflexão
está em “Investir na catequese e na formação bíblica”. Essa necessidade
aparece pelo fato de que grande parte das pessoas que se deixam
influenciar provém de áreas rurais, são católicos ingênuos ou pessoas
das periferias pobres das cidades, desprovidas de um suficiente
aprofundamento na sua fé. “Devemos encontrar novas respostas a esta
situação, através de maiores esforços catequéticos, preparando as
pessoas ao melhor conhecimento da fé e a responder com segurança às
propagandas e acusações contra a Igreja. É necessária uma melhor
formação religiosa dos fiéis. Isto requer catequistas bem formados, que
possam atuar como multiplicadores na educação da fé”, sublinha.
“Cultivar a espiritualidade e discernir a dimensão carismática da
Igreja”, recomenda o texto. “Os pentecostais buscam uma experiência
espiritual; desejam experimentar o Espírito Santo e o poder de Deus de
modo imediato, aqui e agora. Neste sentido, constata-se um forte
componente emocional. Em função disto, referem-se continuamente às
Escrituras, apelando sobretudo às passagens do Novo Testamento que
tratam dos carismas. Em contrapartida, as nossas liturgias e a nossa
doutrina parecem muito secas, abstratas e intelectualizadas, como se
fossem distantes da experiência humana”. Uma ressalva está colocada de
forma clara no texto: “É verdade, que muitas das ditas ´experiências do
Espírito Santo´ são ambíguas e necessitam do discernimento dos
espíritos. Por outro lado, a Igreja católica redescobriu sua legítima
preocupação sobre as manifestações do Espírito Santo: o Concílio
Vaticano II reafirmou o aspecto pneumatológico-carismático da Igreja e
introduziu uma renovação da dimensão carismática da Igreja”.
Por fim, dom Biasin ressaltou que “o movimento pentecostal abriu
espaço dentro da Igreja Católica” e uma consequência prática desta
redescoberta tem sido o movimento carismático, através do qual. “Em
certo sentido, se poderia falar até mesmo de uma ´pentecostalização´ da
Igreja Católica”, destaca. E finaliza: “Disto decorrem numerosas
consequências eclesiológicas, que incluem as relações entre o sacerdócio
universal de todos os batizados e o sacerdócio hierárquico; entre o
primado e as estruturas sinodais-colegiais da Igreja; entre os bispos,
os diáconos e os presbíteros; entre os pastores e o inteiro Povo de
Deus. O enfoque pneumatológico ajuda a resolver tais questões de um modo
mais dinâmico e menos estático. Em outros termos: creio que há uma
maneira de tomarmos em consideração algumas reivindicações legítimas do
pentecostalismo na Igreja. A partir daí, conceber o diálogo
católico-pentecostal como partilha de dons será algo possível e útil
para o futuro da Igreja”.
Os bispos tiveram oportunidade para dar sugestões e levantar
questionamentos sobre o texto apresentado. “Não estamos refletindo isso
para chegar à conclusão”, mas para avançar na reflexão sobre o tema,
concluiu dom Leonardo Steiner, secretário-geral da CNBB.
O segundo dia do encontro teve início com a Santa Missa presidida
pelo arcebispo de Salvador, (BA) e vice presidente da CNBB, dom Murilo
Krieger e concelebrada pelo arcebispo de Brasília (DF) e presidente da
CNBB, cardeal Sergio da Rocha e pelo bispo auxiliar de Brasília e
secretário geral da CNBB, dom Leonardo Steiner.
(Fonte: CNBB - Grifo nosso)
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