Recomeçar a partir de Deus


Numa época em que, para muitos, Deus Se tornou o grande Desconhecido, não haverá um relançamento da obra missionária sem a renovação da qualidade da nossa Fé e da nossa oração

A racionalidade científica e a cultura técnica não tendem só a uniformizar o mundo, mas muitas vezes ultrapassam os respectivos âmbitos específicos, na pretensão de delinear o perímetro das certezas da razão, unicamente com o critério empírico das próprias conquistas. Assim, o poder das capacidades humanas acaba por ser considerado a medida do agir, separado de qualquer norma moral. [...]

Neste contexto, como podemos corresponder à responsabilidade que nos foi confiada pelo Senhor? Como podemos semear com confiança a Palavra de Deus, para que cada um possa encontrar a verdade de si mesmo, a sua autenticidade e esperança? Estamos conscientes de que não são suficientes novos métodos de anúncio evangélico ou de obra pastoral, para fazer com que a proposta cristã possa encontrar mais acolhimento e partilha.

Na preparação do Vaticano II, a interrogação predominante a qual a Assembleia conciliar tencionava oferecer uma resposta era: "Igreja, o que dizes de ti mesma?". Aprofundando esta pergunta, os Padres conciliares foram, por assim dizer, reconduzidos ao cerne da resposta: tratava-se de recomeçar a partir de Deus, celebrado, professado e testemunhado.

Com efeito - exteriormente por acaso, mas de modo fundamental não por acaso -, a primeira Constituição aprovada foi sobre a Sagrada Liturgia: o culto divino orienta o homem rumo à Cidade futura e restitui a Deus o seu primado, plasma a Igreja, convocada incessantemente pela Palavra, e mostra ao mundo a fecundidade do encontro com Deus.

Por nossa vez, embora devamos cultivar um olhar reconhecido pelo crescimento do trigo bom também num terreno que se apresenta muitas vezes árido, sentimos que a nossa situação exige um impulso renovado, que aposte naquilo que é essencial da Fé e da vida cristã. Numa época em que, para muitos, Deus Se tornou o grande Desconhecido e Jesus simplesmente um grande personagem do passado, não haverá um relançamento da obra missionária sem a renovação da qualidade da nossa Fé e da nossa oração; não seremos capazes de oferecer respostas adequadas, sem um acolhimento renovado do dom da Graça; não saberemos conquistar os homens para o Evangelho, se nós mesmos não formos os primeiros a viver uma profunda experiência de Deus.

Estimados irmãos, a nossa tarefa primária, verdadeira e singular consiste em comprometer a vida no que vale e permanece, naquilo que é realmente fiável, necessário e último.
Os homens vivem de Deus, d'Aquele que procuram - muitas vezes inconscientemente ou apenas às apalpadelas - para dar um significado pleno à existência: nós temos a tarefa de O anunciar e mostrar, de orientar rumo ao encontro com Ele. Mas é sempre importante recordar-nos que a primeira condição para falar de Deus é falar com Deus, tornando-nos cada vez mais homens de Deus, alimentados por uma vida de oração intensa e plasmados pela sua Graça.

(Excertos do discurso à Assembleia Geral da Conferência Episcopal Italiana, 24/5/2012).
(Revista Arautos do Evangelho, Julho/2012, n. 127, p. 8-9)

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